Qual foi a última vez que você fez uma coisa pela primeira vez? Talvez boa parte das pessoas não tenha uma resposta pronta para esta pergunta. Mas isso é exatamente o que acontece comigo neste momento, depois de trinta e oito anos dedicados a imagem em movimento, resolvi abrir meu arquivo de fotografias e criar um site para divulgação, exposição e venda de fotos captadas nas minhas andanças profissionais e pessoais. Tenho muita coisa registrada, comecei a fotografar bem antes de entrar para o audiovisual e nunca parei. São fotografias coloridas e em preto e branco, documentais e conceituais que mostram o olhar atento e crítico de quem passou uma vida olhando por um visor. Minhas fotografias carregam muito do meu olhar cinematográfico de diretor de fotografia e de operador de câmera.
Porém a transição das imagens em movimentos para a fotografia estática não foi tão automática quanto parece. Comecei a organizar meus arquivos de fotos still e percebi que não seria fácil juntá-las e criar uma narrativa que fosse além das imagens isoladas. Apesar de muitas semelhanças também há muitas diferenças entre as duas linguagens. Foi então que entrei no curso de pós-graduação em Fotografia e Arte. Um curso com muita teoria e alguma prática, voltado para desenvolvimento de linguagens e um estilo autoral. Eu precisava entender melhor a diferença de narrativa entre um ensaio fotográfico e um filme. Apesar de ter dirigidos muitos trabalhos para a TV, parti sempre de um roteiro pré-estabelecido. Me valia não só das imagens, mas também dos diálogos, da narração, da música e da montagem. Características do audiovisual. Mas como chegar a esse ponto com as fotografias? De repente me vi envolto por centenas de imagens com as quais não conseguia criar uma narrativa para mostrá-las. Foi aí que a pós me ajudou. Foram várias horas de discussões e textos sobre poética da imagem, simbologia, autoria, ensaios, narrativas e tudo mais ligado a imagem fotográfica. Realmente me abriu um horizonte novo.
Agora, estou lançando um site só com trabalhos fotográficos. Com coleções documentais, de paisagens, arquitetura, streetview entre outras. São cenas que revelam um pouco do Brasil por onde passei para fazer os filmes e documentários. O audiovisual leva a gente para lugares que jamais iriamos por conta própria. Tem também imagens das minhas jornadas como turista e mesmo pelos trajetos cotidianos, sempre procurando uma forma distinta de ver e de mostrar uma cena.
Acredito que uma fotografia só ganha sentido na consciência do observador(a). É nesse momento que o trabalho autoral se completa. Quando exibo uma foto, espero causar algum tipo de afeto, no sentido de afetar a forma como se enxerga o mundo. Ao ler o texto A Memória Precisa Caminhar, resultado da conversa entre Clarissa Diniz e Sandra Benites, que aborda exatamente a necessidade das imagens caminharem, resolvi abrir meus arquivos e colocar as minhas imagens pra caminhar.
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